Mesmo morando em uma Comunidade rural, aos 14 anos de idade consegui me tornar fluente em inglês, de forma auto-didata.
Com certeza o fato de ser autista com vários hiperfocos teve muito a ver com isso. Ser autista traz um monte de complicações, mas também alguns benefícios.
Aos 16 anos eu me tornei o único professor de Inglês da cidade em que morava, e desde então esse idioma tem sido responsável, direta ou indiretamente, por 90% de tudo que conquistei na vida.
Pode parecer que essa introdução auto indulgente não tem nada a ver com o tema do post, mas a minha opinião só vai ficar clara tendo isso em mente.
Antes de postar esse texto eu ouvi a opinião de alguns amigos e amigas do mundo do rock ( valeu demais, João, Rafael, Thaita e Mendes!).
Vejo algumas pessoas fazerem essa separação entre "bandas que cantam em inglês" e " bandas que cantam em Português", e conheço SIM um número razoável de pessoas que não consideram as bandas que não cantam em português como parte da cena.
Se você não conhece, parabéns, só não venha cagar regra nisso, OK? Falar que "eu não conheço a cena"é de uma pretensão gigante. A cena é ampla e tem MUITA coisa rolando por aí que não está no filtro mesmo de quem está nela desde o começo.
Uma vez que minha banda tem 5 discos e 1 EP cantados em Inglês, e agora vai lançar um disco todo em português, eu meio que transito nos 2 mundos.
Esse artigo não é para quem, assim como eu, acha que fazer essa dívisão não faz sentido. Eu acho que música é mùsica, que vivemos conectados num mundo com fronteiras líquidas (um abraço, Baumann), e que, inspirado pela reflexão "Palido Ponto Azul" do Carl Sagan, eu não vou diminuir ainda mais o tamanho do meu mundo.
Esse texto é para refletir sobre 2 argumentos que surgiram nas conversas que tive com a galera citada acima.
Inclusive eles leram isso antes de postar.
1° Argumento:
"Cantar em Português faz as pessoas entenderem mais a mensagem" - um argumento válido
Como professor de inglês por mais de 20 anos, posso afirmar sem qualquer medo de erro que apenas uma pequena parcela da população domina o idioma no nível da fluência.
Durante muito tempo escolas de inglês converteram a lingua em um diferencial voltado as classes abastadas, ao mesmo tempo em que o ensino público sucateava o idioma. Eu já dei aula de inglês no ensino público e também em escolas como Wizard, Yazig, People e CNA, ambos os modelos são extremamente problemáticos.
Dessa forma, cantar em português realmente torna a mensagem mais abrangente.
2° Argumento:
"Cantar em Português tem a ver com nossa Identidade" - Um argumento zoadíssimo
Esse argumento é problemático em vários niveis diferentes. Vou comentar apenas alguns poucos.
Português é nossa identidade?
Vamos considerar que sim. E estender isso ao rock e o Horror Punk.
O rock, o punk, são estilos que surgiram FORA do Brasil.
Se é pra se manter fiel a esse conceito de "identidade", então que se busque também generos nacionais.
Um "Horror -Maracatú", um "Horror-Catira", um "Horror-Modão" faria muito mais jus a esse argumento de "identidade".
Eu, particularmente, tenho achado mais fácil cantar em português, do ponto de vista fonético. Eu acho o português uma língua mais bem construida do que o Inglês.
E quando o assunto é Horror punk, eu realmente gosto mais daquelas bandas que cantam em português.
Só acho que quando se apela para o argumento da "identidade", tocando um gênero musical que surgiu milhares de kilometros longe, em outro país, é um argumento muito fraco.
E outro ponto: Que identidade?
Porque o INGLÊS faz tanto parte da minha identidade quanto o português. E isso não faz de mim menos brasileiro. A maioria das escolas particulares prezam que os professores falem inglês o maximo possível, e nesses 20 anos de docência a quantidade de tempo que eu passei falando inglês foi enorme.
Também acho que muitas vezes usar o termo "identidade" enquanto brasileiro acaba caindo em um nacionalismo que principalmente hoje em dia me irrita profundamente. O que tem de imbecil saindo nas ruas com camiseta da seleção em defesa da nossa "identidade nacional" não está escrito.
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