O Horror Punk em tempos de
Pandemia – Reflexões
Bom, galera, essa matéria tem a ideia de ver de que forma a cena horror punk nacional se adaptou a esses tempos de isolamento social, e acima de tudo, deixar claro como o cenário de nosso estilo musical soube lidar de forma positiva com alguns problemas que já existiam muito antes da pandemia acontecer.
Vou falar dos aspectos positivos
dessa fase para o horror punk, mas vejam bem: eu NÂO estou dizendo que a
pandemia foi uma coisa boa! Se você entendeu isso, vá se tratar.
Eu estou dizendo que por causa
dela, TODO mundo teve que se adaptar, e no cenário musical todas as cenas
tiveram que se reinventar, e algumas souberam aproveitar esse momento melhores
do que outras, como foi o caso do horror punk.
Também gostaria de dizer que eu
vou SIM tocar no assunto das panelinhas dentro da cena. Sei que muita gente
está cansada de ouvir falar disso, outros não concordam, mas enfim: é o MEU
blog, o MEU texto, e o plano não é fazer carinho na cabeça de ninguém, mas sim
dar minha opinião (de merda) sobre isso.
EU nasci, cresci e vivi em
comunidades rurais. Atualmente, moro em um sítio muito afastado da cidade.
Sempre estive “fora” da cena, literalmente.
Mas não foi por falta de
tentativas. Quando eu era adolescente e tinha as raras ocasiões de ir em festivais
do estilo (ou algo próximo), sempre rolava uma piada sem graça, uma
desconfiança, afinal, eu não estava “vestido de punk rocker”.
Quando eu começava a falar das
bandas que gostava, sempre tinha um filho da puta que perguntava: “Ué, mas você
não curte Almir Sater? Chitãozinho e Xororó?”.
EU ficava puto da vida, e tinha
que explicar pacientemente que não estava nos “trajes” simplesmente porque não
tinha dinheiro para isso, para “ser visto como igual” pela galera.
Ir em shows era algo quase impossível,
e continua sendo, e falo antes da pandemia.
Ouvia falar de festivais em
barzinhos em São Paulo, Itanhaém, na Lua, e ficava maluco, querendo muito fazer
parte de tudo isso.
Aí veio a pandemia.
Eu que já moro isolado de tudo,
tive que ficar mais isolado ainda, uma vez que minha esposa e meus sogros (meu
sogro faleceu recentemente, por sinal) são todos do grupo de risco.
Mas ao contrário do que eu
esperava, eu comecei a perceber que a cena que eu tanto admirava se abria.
Estava mais fácil para alguém enfiado no meio da roça acompanhar o que o Horror
Punk estava trazendo, com meu celular e um plano de 80 reais da Vivo.
Apresentações musicais que antes
só poderiam ser assistidas naquele barzinho de motoqueiros em Limeira, ou
Campinas, ou na Puta que Pariu, agora eu podia ver transmitido pelo facebook.
Logicamente, algumas bandas
transmitiam coisas antes, mas depois da pandemia foi muito maior esse
movimento. Se eu perdesse a exibição ao vivo, depois o vídeo estaria lá, na página
da banda para assistir.
Percebi também que algumas bandas
começaram a se comunicar mais com o público.
Porque vou falar: tem banda que
parecia se esforçar na falta de comunicação.
Claro, casos específicos, não
quero generalizar, mas que ainda sim aconteciam com frequência maior do que
deveria acontecer.
Além de Horror Punk, eu acompanho
outras cenas, algumas próximas como a cena do metal, outras bem distantes, como
a cena da música erudita.
Ambas, a cena metal e o pessoal
do erudito, se encolheram na pandemia. Algumas bandas praticamente sumiram no
quesito comunicação.
O Horror punk fez o caminho
contrário; se expandiu.
Para as bandas, eu acredito que
deva ter sido tempos muito difíceis. Dificuldades para ensaiar, dificuldades para
gravar suas músicas e discos, todos os festivais e apresentações cancelados.
Com certeza deve ter ocorrido queda de vendas daquelas que trabalham com
material físico.
Mas até onde percebo, a galera se
esforçou muito para manter a chama acesa.
Tenho certeza que muita gente
como eu, que ficava lá de fora, só olhando, se sentiu seguro pra se aproximar
da galera nesses tempos.
Aqui, do lado de cá do meu
celular, escrevendo isso, não importa se eu estou vestido igual o Chico Bento
ou igual ao cara do Misfits.
É isso.
Espero que quando tudo isso
passar, a galera mantenha todo o saldo positivo, e não regrida para algum ponto
anterior.
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