sexta-feira, 23 de abril de 2021

O Horror Punk nacional em tempos de Pandemia - Reflexões

 

O Horror Punk em tempos de Pandemia – Reflexões

 

Bom, galera, essa matéria tem a ideia de ver de que forma a cena horror punk nacional se adaptou a esses tempos de isolamento social, e acima de tudo, deixar claro como o cenário de nosso estilo musical soube lidar de forma positiva com alguns problemas que já existiam muito antes da pandemia acontecer.

Vou falar dos aspectos positivos dessa fase para o horror punk, mas vejam bem: eu NÂO estou dizendo que a pandemia foi uma coisa boa! Se você entendeu isso, vá se tratar.



Eu estou dizendo que por causa dela, TODO mundo teve que se adaptar, e no cenário musical todas as cenas tiveram que se reinventar, e algumas souberam aproveitar esse momento melhores do que outras, como foi o caso do horror punk.

Também gostaria de dizer que eu vou SIM tocar no assunto das panelinhas dentro da cena. Sei que muita gente está cansada de ouvir falar disso, outros não concordam, mas enfim: é o MEU blog, o MEU texto, e o plano não é fazer carinho na cabeça de ninguém, mas sim dar minha opinião (de merda) sobre isso.

EU nasci, cresci e vivi em comunidades rurais. Atualmente, moro em um sítio muito afastado da cidade. Sempre estive “fora” da cena, literalmente.

Mas não foi por falta de tentativas. Quando eu era adolescente e tinha as raras ocasiões de ir em festivais do estilo (ou algo próximo), sempre rolava uma piada sem graça, uma desconfiança, afinal, eu não estava “vestido de punk rocker”.

Quando eu começava a falar das bandas que gostava, sempre tinha um filho da puta que perguntava: “Ué, mas você não curte Almir Sater? Chitãozinho e Xororó?”.

EU ficava puto da vida, e tinha que explicar pacientemente que não estava nos “trajes” simplesmente porque não tinha dinheiro para isso, para “ser visto como igual” pela galera.

Ir em shows era algo quase impossível, e continua sendo, e falo antes da pandemia.

Ouvia falar de festivais em barzinhos em São Paulo, Itanhaém, na Lua, e ficava maluco, querendo muito fazer parte de tudo isso.

 

Aí veio a pandemia.


Eu que já moro isolado de tudo, tive que ficar mais isolado ainda, uma vez que minha esposa e meus sogros (meu sogro faleceu recentemente, por sinal) são todos do grupo de risco.

Mas ao contrário do que eu esperava, eu comecei a perceber que a cena que eu tanto admirava se abria. Estava mais fácil para alguém enfiado no meio da roça acompanhar o que o Horror Punk estava trazendo, com meu celular e um plano de 80 reais da Vivo.

Apresentações musicais que antes só poderiam ser assistidas naquele barzinho de motoqueiros em Limeira, ou Campinas, ou na Puta que Pariu, agora eu podia ver transmitido pelo facebook.

Logicamente, algumas bandas transmitiam coisas antes, mas depois da pandemia foi muito maior esse movimento. Se eu perdesse a exibição ao vivo, depois o vídeo estaria lá, na página da banda para assistir.

Percebi também que algumas bandas começaram a se comunicar mais com o público.

Porque vou falar: tem banda que parecia se esforçar na falta de comunicação.

Claro, casos específicos, não quero generalizar, mas que ainda sim aconteciam com frequência maior do que deveria acontecer.

Além de Horror Punk, eu acompanho outras cenas, algumas próximas como a cena do metal, outras bem distantes, como a cena da música erudita.

Ambas, a cena metal e o pessoal do erudito, se encolheram na pandemia. Algumas bandas praticamente sumiram no quesito comunicação.

O Horror punk fez o caminho contrário; se expandiu.

 

Para as bandas, eu acredito que deva ter sido tempos muito difíceis. Dificuldades para ensaiar, dificuldades para gravar suas músicas e discos, todos os festivais e apresentações cancelados. Com certeza deve ter ocorrido queda de vendas daquelas que trabalham com material físico.

Mas até onde percebo, a galera se esforçou muito para manter a chama acesa.

Tenho certeza que muita gente como eu, que ficava lá de fora, só olhando, se sentiu seguro pra se aproximar da galera nesses tempos.

Aqui, do lado de cá do meu celular, escrevendo isso, não importa se eu estou vestido igual o Chico Bento ou igual ao cara do Misfits.

É isso.

Espero que quando tudo isso passar, a galera mantenha todo o saldo positivo, e não regrida para algum ponto anterior.

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