terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Resenha: Trail of Tears - Disclosure in Red (1998)

 A banda norueguesa Trail of Tears entre trancos e barrancos continua na ativa até os dias atuais, tendo atravessado muitas mudanças, tanto de formação quanto de sonoridade.

A banda surgiu no momento em que a música melancólica estava em alta, e bandas como Paradise Lost, Tiamat, Anathema, Katatonia, Amorphis e tantas outras eram figuras recorrentes no cenário do metal mundial. 

O lado mais sinfônico do gothic metal também estava em um momento de muito reconhecimento, e bandas como Theatre of Tragedy estavam em alta, e um ano antes o Tristania havia lançado o maravilhoso WIdow's Weed.

No entanto, o Trail of Tears já nesse primeiro disco apresentaria a característica que o faria diferente dessas outras citadas: O peso.

Sem sombra de duvidas, o Trail of Tears era a banda mais pesada dessa leva do Gothic metal noventista, colocando ao lado do metal sinfonico e dos vocais operísticos altas doses de death metal e até mesmo trechos que remetiam ao black metal. As guitarras apresentavam uma distorção absurda, e o vocal masculino gutural era muito mais cavernoso do que o que faziam as outras bandas de alguma forma similares. Coloque aí algumas influencias de metal tradicional, e temos o Trail of Tears.

No Brasil, a banda se tornou conhecida pois a primeira musica desse disco, "When Silent Cries" entrou em uma das edições da saudosa coletanea "Planet Metal", cds vendidos em bancas de jornal a um preço muito acessível e que foram a porta de entrada de muitas novas bandas em nossas terras. 

Eu me lembro inclusive que foi essa - When Silent Cries - a primeira música de Gothic metal com alternância de vocais femininos com guturais que eu escutei na vida. Lembro de achar o som excessivamente pesado (na epoca, eu ouvia muito rock progressivo dos anos 70...imagina alguèm acostumado a ouvir YES se deparar com Trail of Tears pela primera vez!).

No entanto, gostei muito do clima soturno e vampiresco, que remetia aos livros da Anne Rice qe eu estava lendo naquela época.

Esse disco é muito bom. Ele mantem uma boa homogeneidade entre peso e melodia. Um outro ponto curioso é que de maneira geral a banda apresenta aqui andamentos um pouco mais acelerados do que seria tradicional no estilo. Outro fator MUITO interessante é o uso de violões limpos em algumas passagens. Violão nunca caiu muito nas graças da galera do gothic metal, e o Trail of Tears mostrava que um violão bem tocado podia ser tão melancólico quanto arpejos funebres no piano.

A vocalista aqui é Helena Iren Michaelsen, que infelizmente não duraria muito na banda. Ela alterna vocais operísticos com outros mais tradicionais, e ainda em alguns trechos de uma forma mais teatral. Ainda que ela dê algumas escorregadas em uma melodia ou outra, fato é que o timbre de voz casa perfeitamente com o som da banda e cria um contraste interessante com o vocal gutural de Rony Thorsen.

Curiosidade: Rony Thorsen substituiria Morten Veland no Tristania quando esse saiu para montar o Sirenia.

Esse disco mantém a qualidade do inicio ao fim. Em alguns momentos, como na música Illusion a guitarra faz riffs que não vemos em nenhuma outra banda de gothic metal.

Apesar da melancolia, dos teclados onipresentes e da brilhante participação adocicada de Irene, verdade é que "Disclosure in Red" pode soar excessivamente pesado para ouvidos menos acostumados.

De maneira geral a maioria dos fãs consideram o terceiro disco, "A New Dimension of Might" o ponto alto da qualidade da banda.

Eu contudo confesso que considero esse e o disco seguinte, "Profoundemonium" duas obras primas, que trouxeram frescor a cena gothic metal mundial, que apesar do sucesso iria "colapsar" devido ao exagero de bandas que soavam de alguma forma muito semelhantes demais entre si.

Acredito que é justamente essas caracteristicas peculiares que garantiram a sobrevida do conjunto. Enquanto várias bandas clássicas da cena encerraram há muito suas atividades (Tristania, Theatre of Tragedy, The Sins of Thy Beloved e dezenas de outras), o Trail of Tears segue firme e forte(apesar de um hiato entre 2013 e 2020).

Line up da banda no disco:

Ronny ThorsenVocals (harsh), Lyrics
Helena Iren MichaelsenVocals (contralto), Lyrics
Runar HansenGuitars (lead)
Terje HeiseldalGuitars (rhythm)
Kjell R. HagenBass
Frank Roald HagenKeyboards
Jonathan PerezDrums, Percussion


Nota: 9,5/10

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