quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Resenha: Nemedian Chronicles - The Savage Sword (2024)

 E hoje, dia 28 de fevereiro de 2024, venho resenhar um disco que foi oficialmente lançado apenas 5 dias atrás e para mim já é o mais provável disco do ano: "The Savage Sword", da banda francesa "Nemedian Chronicles. Um disco de metal para superar esse aqui terá que ser sobrenaturalmente bom.

Como fica totalmente escancarado pela capa, pelo nome da banda e pelo titulo do álbum, trata-se de uma banda com temática 100% voltada para o famoso bárbaro criado por Robert E. Howard, o cimério Conan, o bárbaro.

É perceptível que a banda entrou fundo no imaginário mundo da era Hiboriana para criar seu som.

Musicalmente, temos aqui um som épico, poderoso e absurdamente bem feito. A referência mais imediata é sem sombra de dúvida o Blind Guardian em seus primeiros discos. O timbre do vocal em certos momentos lembra assustadoramente a voz de Hansi Kursch, e as guitarras também bebem nervosamente da fonte dos bardos alemães.

Mas seria uma injustiça enorme se dissermos que se trata de uma mera "cópia". Diria até que esse disco supera vários do BG. Ao lado de Blind Guardian, temos influências do lado épico do Manowar. Hammerfall também pode ser apontado como uma das bandas referenciadas aqui.

Além disso, vários elementos do heavy metal europeu dos anos 80 pipocam aqui e ali. Então se além das bandas já citadas você curte Running Wild, Grave Digger e Saxon (entre muitas outras), a chance de você se sentir em casa é enorme!

Após uma introdução épica em que um dos textos mais famosos de Howard é recitado tendo como fundo um arranjo orquestral claramente inspirado na trilha sonora original do filme classico com o big Arnold, temos "Born on a Battlefield", uma música tão perfeitamente cantada, composta e executada que beira o ridículo.

"The Thing in the Crypt" vem adicionar mais peso ao som, e talvez seja essa a que mais lembra Blind Guardian, em seus melhores momentos, diga-se de passagem. A bateria nessa música é insana.

Em seguida temos "Tower of the Elephant", baseada na obra mais famosa do personagem. Esta é mais cadenciada, com FORTES influências de Manowar. O refrão só não é mais épico porque não é o próprio Conan cantando.

Na verdade eu poderia ficar aqui comentando uma por uma das faixas do album, mas fato é que seria chover no molhado; simplesmente a qualidade se mantém constante e nenhum momento é desinteressante.

Como disse: Dúvido que algum disco lançado esse ano dentro do cenário do metal consiga superar o que esse aqui faz.

Nota: 1000/10

Tracklist:
1. Nemedian Chronicles
2. Born on a Battlefield
3. Venarium
4. The Thing in the Crypt
5. Tower of the Elephant
6. Tigress of the Black Coast
7. The Savage Sword
8. Monsterslayer
9. Black Lotus/The Curse of Thog
10. Stygian Sons of Set
11. The Song of Red Sonja
12. Road of the Kings

Lineup: Alexandre Duffau - Vocals David Royer - Guitars Thomas Teissedre - Guitars Guillaume Lefebvre - Bass
Guillaume Rodriguez - Drums


terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Resenha: Trail of Tears - Disclosure in Red (1998)

 A banda norueguesa Trail of Tears entre trancos e barrancos continua na ativa até os dias atuais, tendo atravessado muitas mudanças, tanto de formação quanto de sonoridade.

A banda surgiu no momento em que a música melancólica estava em alta, e bandas como Paradise Lost, Tiamat, Anathema, Katatonia, Amorphis e tantas outras eram figuras recorrentes no cenário do metal mundial. 

O lado mais sinfônico do gothic metal também estava em um momento de muito reconhecimento, e bandas como Theatre of Tragedy estavam em alta, e um ano antes o Tristania havia lançado o maravilhoso WIdow's Weed.

No entanto, o Trail of Tears já nesse primeiro disco apresentaria a característica que o faria diferente dessas outras citadas: O peso.

Sem sombra de duvidas, o Trail of Tears era a banda mais pesada dessa leva do Gothic metal noventista, colocando ao lado do metal sinfonico e dos vocais operísticos altas doses de death metal e até mesmo trechos que remetiam ao black metal. As guitarras apresentavam uma distorção absurda, e o vocal masculino gutural era muito mais cavernoso do que o que faziam as outras bandas de alguma forma similares. Coloque aí algumas influencias de metal tradicional, e temos o Trail of Tears.

No Brasil, a banda se tornou conhecida pois a primeira musica desse disco, "When Silent Cries" entrou em uma das edições da saudosa coletanea "Planet Metal", cds vendidos em bancas de jornal a um preço muito acessível e que foram a porta de entrada de muitas novas bandas em nossas terras. 

Eu me lembro inclusive que foi essa - When Silent Cries - a primeira música de Gothic metal com alternância de vocais femininos com guturais que eu escutei na vida. Lembro de achar o som excessivamente pesado (na epoca, eu ouvia muito rock progressivo dos anos 70...imagina alguèm acostumado a ouvir YES se deparar com Trail of Tears pela primera vez!).

No entanto, gostei muito do clima soturno e vampiresco, que remetia aos livros da Anne Rice qe eu estava lendo naquela época.

Esse disco é muito bom. Ele mantem uma boa homogeneidade entre peso e melodia. Um outro ponto curioso é que de maneira geral a banda apresenta aqui andamentos um pouco mais acelerados do que seria tradicional no estilo. Outro fator MUITO interessante é o uso de violões limpos em algumas passagens. Violão nunca caiu muito nas graças da galera do gothic metal, e o Trail of Tears mostrava que um violão bem tocado podia ser tão melancólico quanto arpejos funebres no piano.

A vocalista aqui é Helena Iren Michaelsen, que infelizmente não duraria muito na banda. Ela alterna vocais operísticos com outros mais tradicionais, e ainda em alguns trechos de uma forma mais teatral. Ainda que ela dê algumas escorregadas em uma melodia ou outra, fato é que o timbre de voz casa perfeitamente com o som da banda e cria um contraste interessante com o vocal gutural de Rony Thorsen.

Curiosidade: Rony Thorsen substituiria Morten Veland no Tristania quando esse saiu para montar o Sirenia.

Esse disco mantém a qualidade do inicio ao fim. Em alguns momentos, como na música Illusion a guitarra faz riffs que não vemos em nenhuma outra banda de gothic metal.

Apesar da melancolia, dos teclados onipresentes e da brilhante participação adocicada de Irene, verdade é que "Disclosure in Red" pode soar excessivamente pesado para ouvidos menos acostumados.

De maneira geral a maioria dos fãs consideram o terceiro disco, "A New Dimension of Might" o ponto alto da qualidade da banda.

Eu contudo confesso que considero esse e o disco seguinte, "Profoundemonium" duas obras primas, que trouxeram frescor a cena gothic metal mundial, que apesar do sucesso iria "colapsar" devido ao exagero de bandas que soavam de alguma forma muito semelhantes demais entre si.

Acredito que é justamente essas caracteristicas peculiares que garantiram a sobrevida do conjunto. Enquanto várias bandas clássicas da cena encerraram há muito suas atividades (Tristania, Theatre of Tragedy, The Sins of Thy Beloved e dezenas de outras), o Trail of Tears segue firme e forte(apesar de um hiato entre 2013 e 2020).

Line up da banda no disco:

Ronny ThorsenVocals (harsh), Lyrics
Helena Iren MichaelsenVocals (contralto), Lyrics
Runar HansenGuitars (lead)
Terje HeiseldalGuitars (rhythm)
Kjell R. HagenBass
Frank Roald HagenKeyboards
Jonathan PerezDrums, Percussion


Nota: 9,5/10

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Resenha: Within Temptation – Enter

A banda holandesa Within Temptation se tornou uma das bandas de rock mais bem sucedidas das últimas décadas apostando em uma inusitada mistura de música pop e metal sinfônico, com algumas influências de música eletrônica.

No entanto, o que nem todos sabem é  que no início a banda fazia um som bem diferente daquele que o consagrou, como podemos constatar no debut “Enter”, de 1997.

Enter aposta num gothic metal sinfônico extremamente melancólico,  pesado onde – acreditem – a presença de vocais guturais se faz presente, alternando com a maravilhosa e adocicada voz da cantora Sharon Den Adel.

Nesse álbum de estreia há de se destacar que o vocal de Sharon trazia muitas influencias operísticas,  que se reduziram drasticamente a partir do (fantástico) disco seguinte, “Mother Earth” e que desapareceriam totalmente a partir do "Silent Force".

Este disco bebe direto na fonte do metal gótico que imperava na segunda metade da década de 90, remetendo ao som de bandas como Tristania, Lacuna Coil e The Gathering, além de fortes influênciaa de doom metal. Contudo, a maior influência aqui com certeza são os primeiros discos do Theatre of Tragedy, principalmente pelos teclados e pelas linhas vocais femininas, que muitas vezes parecem terem sido compostas pela Liv Kristine.

Mas verdade seja dita: quando o assunto  é técnica vocal, afinação e controle da voz, a Sharon sempre esteve anos luz a frente de todas as outras grandes cantoras do estilo.

O Álbum apresentava, ao menos em seu lançamento original, 8 musicas.  Em linhas gerais,  as músicas são mais longas do que se tornaria  comum em outros álbuns, com passagens instrumentais arrastadas e longas.  As letras também são bem diferentes do que aquelas que seriam abordadas no futuro. Enquanto atualmente a banda escreve sobre fantasia, relacionamentos e natureza, aqui temos temas sombrios como vampiros, Fantasmas e escuridão.

Destaques

“Restless” abre o disco de forma contemplativa,  com Sharon mostrando logo de cara porque seria no futuro considerada uma das melhores vocalistas da história do metal.

“Enter” é uma música pesada e ao mesmo tempo atmosférica,  com vocais guturais marcantes e linhas de teclado e guitarra que parecem terem saído diretamente do disco “Velvet darkness they fear “ do Theatre of Tragedy.

“Pearls of Light" traz de novo o foco para Sharon, seguida de “Deep Within”, uma paulada em que o vocal gutural é  o destaque.

O Álbum segue com muita competência, encerrando de forma digna com a incrível “Candles”.

Esse  é de longe meu disco favorito do Within Temptation, e entra fácil no meu top 7 de melhores discos de Symphonic Gothic Metal de todos os tempos.

A maioria dos fãs deste disco costumam reclamar do direcionamento que a banda tomou e da mudança radical de estilo. Mas esse não é o meu caso.

Acho que apesar das mudanças o Within Temptation continua até hoje entregando discos de altíssima qualidade.

O fato da banda ser talvez a única banda do cenário gótico dos anos 90 a até hoje ser relevante e ter uma agenda completamente lotada de shows mostra que, ao menos comercialmente,  a banda tomou decisões lógicas e acertadas.

Enfim, e para quem só conhece o Within Temptation de suas músicas leves e pops, recomendo muito escutar esse disco. Tenho certeza que a surpresa será grande e positiva.

Nota:9/10

Creditos:

Within Temptation

Additional musicians

  • George Oosthoek – vocals on "Deep Within"
  • Lex Vogelaar – guitars on "Pearls of Light"
  • Guus Eikens – synthesizers/sound advice

 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Resenha Brasuca: Saturno Prestes

 Olá,  pessoal,  tudo bem com vocês?

Hoje começo uma nova fase aqui no blog, em que irei comentar, indicar e resenhar bandas brasucas para além do horror punk. Então espere ver aqui todos os outros estilos que eu amo tanto: rock progressivo,  doom metal, Black metal, pós-punk, celtic punk...e até estilos menos "óbvios " que eu também curto, como world music, New age, dungeon synth, chiptune.

Por quê?

O principal motivo foi o encerramento do site 80 Minutos, que por anos foi o espaço mais democrático e eclético de crítica musical do país.  

E o segundo motivo é que - vamos ser sinceros - a cena horror punk tanto brasileira como internacional está caminhando a passos de tartaruga, com pouquíssimos lançamentos e pouquíssimas atualizações.  Temos uma infinidade de bandas excelentes na cena, e sei que a maior parte deste "silêncio" da cena é porque a galera está fazendo seus corres e tentando dar conta de tudo. Entendo isso perfeitamente. 

Feitas as devidas explicações, vamos a resenha de hoje.

Banda: SATURNO PRESTES

A banda brasuca acaba de lançar um EP auto-intitulado contendo 4 músicas, totalizando cerca de 18 minutos de música. Aqui o setlist:

1- Saturno Prestes

2- Supernatural

3- Jardins Artificiais

4- O fim da Morte (Cixinesque)

Achei muito bom que a banda disponibilizou o EP em VÁRIAS plataformas diferentes.  No fim da matéria você encontra o link para a audição. 


Qualidade do Áudio 

As músicas tem uma qualidade de produção muito boa. Tudo soa claro e balanceado, algo que nem sempre é fácil de encontrar, ainda mais sabendo que a produção teve muito da atitude "Faça Você Mesmo" envolvida. Gostei muito dos timbres de guitarra e da forma como a voz foi trabalhada. 


Estilo Musical

Não é tão fácil definir o som do Saturno Prestes. O que é muito bom,  pois confere uma identidade toda própria á banda.  No entanto vou tentar colocar aqui como EU classificaria a banda em relação ao que eu costumo escutar:

O elemento mais predominante é o Rock progressivo,  por conta das mudanças de ritmos, harmonias complexas e muitas vezes um som mais técnico. Nas guitarras a timbragem do instrumento me remeteu aos momentos mais viajantes do Steve Vai, e alguns dedilhados me fizeram pensar em Violeta de Outono. A voz é muito afinada e junto com o que foi dito eu senti um certo amor pela MPB da década de 70 e pitadas de BRock dos 80s.

Enfim, a banda tem identidade suficiente pra dizermos que soa como "Saturno Prestes".

Músicas 

1- "Saturno Prestes"

O EP abre com uma introdução que me remeteu imediatamente à Steve Vai. Tanto que por alguns segundos achei que seria uma faixa instrumental.  É uma música com uma vibe meio contemplativa, ainda que a guitarra seja onipresente. Possui alguns backing-vocals bem simples mas que se encaixam perfeitamente no que a música pedia. A guitarra traz algumas dissonâncias muito interessantes e que trazem bastante dinamismo a música de forma simples e eficiente. 


2- "Supernova"

Essa apresenta uma estrutura bem diferente da anterior. Sem introdução,  o vocal já começa com uma melodia quase melancólica em cima de um dedilhado MUITO bonito.

O maior destaque dessa música para mim são os vários momentos em que melodia vocal e guitarra fazem os mesmos caminhos melódicos simultaneamente. A guitarra base apresenta alguns momentos mais pesados que eu acredito que soarão incríveis ao vivo. 


3- "Jardins Artificiais "

Aqui temos a influência do blues falando alto, mas um blues de harmonias ousadas é muito cromatismo. No entanto o destaque vai para os vocais, muito bacanas e que se arrisca em algumas notas mais altas e também investe um pouco no drive em algumas passagens,  com resultados muito acima do satisfatório. 


4- "O fim da Morte (Cixinesque)"

E por fim chegamos aquela que considero a melhor música do EP,  um épico com mais de 8 minutos onde tudo que apareceu nas músicas anteriores se repete aqui potencializado. Meu destaque aqui vai para a Letra, extremamente evocativa, e para a interpretação vocal, que considero aqui primorosa. É cheia de mudanças de ritmos.


Considerações Finais

Um EP excelente.  O único defeito é durar apenas 18 minutos. 

Com certeza a Saturno Prestes promete entregar muita coisa boa por aí. 


Onde ouvir: Saturno Prestes




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