Esse video divertidíssimo e competente não contém muita informação, mas se deduz que é um tipo de "programa" ou festival online (ou televisivo) que compilou 7 bandas de horror punk do país por ocasião do Helloween.
Cada banda aparece em uma apresentação ao vivo, em estúdio, em lugares diferentes. Muitas bandas fazem alguns lances performáticos bem interessantes, como a primeira banda Criadores de Odio, onde o vocalista começa literalmente dentro de um caixão.
Entre uma musica e outra, um apresentador/ator vestido de morto vivo em um cenário sombrio cumpre a função de criar o clima para a próxima canção.
Esse canal só tem apenas 2 videos, o que torna ainda mais dificil descobrir algo sobre o conteúdo apresentado.
As bandas, sem exceção, são excelentes.
Conheço muito pouco da cena argentina de horror punk, mas fica claro que é uma cena variada e competente.
E mais um post da sessão 2 resenhas, com a proposta de analisar bem rapidamente um disco internacional de Horror Punk e um nacional.
Hallowmas - The Road to Hallow's Eve (2005)
Trata-se de um disco divertidíssimo, com uma pegada bem "rock de estrada", uma gravação tosca na medida certa e composições simples e grudentas.
O vocal tenta tanto imitar o Glen Danzig que em certos momentos chega até ficar caricato. No entanto, o cara manda muito bem mesmo nessas horas. Mas é impossível ouvir sem fazer essa associação.
É um disco curto, e as músicas são tão boas e legais que quando acaba, só nos resta ouvir tudo de novo.
Invasores de Tumbas - Sétimo Filho (2016)
Essa banda de Pernambuco entrega um disco muito, muito bacana. Composições redondíssimas, precisas, pesadas. As letras são muito bem construídas, realmente passam a sensação de que estamos vendo um filme de terror.
Vocal afinado e com pegada.
A única coisa que me soou um pouco fora foram os solos de guitarra.
São solos muito bons, o guitarrista realmente manja dos paranauês.
Mas me pareceram "heavy metal" demais. Acho que destoam um pouco do estilo da composição.
Logicamente, nada que comprometa a qualidade apresentada.
Hoje todas as artes são provenientes da Hammer, a maior produtora de filmes de terror das décadas de 50 e 60 (e um pouco dos 70). Muito do nosso imaginário do Horror foi cunhado pela Hammer, de nomes como Peter Cushing e Cristopher Lee.
Hoje vou contar passo a passo a forma como eu gravo minhas músicas.
Vejo muita gente querendo gravar, registrar suas músicas, mas muitas vezes as condições (ou condições ideias) nunca aparecem, e no fim o tempo passa e a vontade esfria, e nada acontece.
Então que fique claro: NÃO É UM TUTORIAL. NÃO ESTOU QUERENDO ENSINAR NINGUÉM.
É só pra partilhar algo que eu gostaria que tivessem partilhado comigo anos atrás.
Gravo de forma que tenho certeza vai fazer muita gente torcer o nariz, mas foi a forma que eu encontrei de registrar minhas criações e composições, a um custo zero.
Os resultados ficam logicamente muito aquém de uma gravação em estúdio, mas acho que dentro da possibilidade os resultados são bastante aceitáveis. Segue uma música que gravei recentemente, escutem e me digam:
Gostaria de deixar claro que eu SEI como funciona uma gravação "profissional" de uma música. Na faculdade,tive as matérias "Mùsica e Tecnologia", além das disciplinas práticas "Pratica de Estúdio I" e " Prática de Estúdio II".
Sei também que existem mil programas melhores do que eu uso, e um zilhão de outros caminhos. Mas no fim, foi dessa forma que descobri o que é confortável, facil e divertido PARA MIM.
Eu uso acima de tudo apps gratuitos de celular e programas de computador também gratuitos.
A música acima eu gravei utilizando um app levinho de celular chamado VOICE RECORDER. E o programa de computador AUDACITY, também gratuito e extremamente simples de usar.
Gravando os instrumentos
Durante muito tempo eu tentei montar uma banda. Diante dessa impossibilidade, eu decidi que gravaria todos os instrumentos eu mesmo.
Primeiro, em um quarto com uma acústica razoável, eu gravo a bateria. Gravo utilizando metrônomo. Como sou péssimo baterista, evito viradas e mudanças de ritmo; gravo tudo reto mais como um guia mesmo.
Gravo no VOICE RECORDER.
Depois eu coloco pra tocar esse audio da bateria, e com o mesmo app gravo o violão ou guitarra bem cima desse audio original.
Em seguida, utilizando o mesmo processo, eu gravo a voz por cima desse audio. Uso um microfone de fone de ouvido mesmo. Coloco dentro de uma caixa de sapatos semi- aberta para dar um reverb e um eco na voz.
Por ultimo, entra o baixo. Nas músicas mais simples, eu mesmo gravo. Se a mùsica é mais complexa, envio o audio para meu amigo Rafael Malardo fazer isso. O cara é um excelente baixista.
Mixando
Feito isso, eu salvo esse áudio final no Google drive, faço download no computador e aí trabalho no AUDACITY como uma única faixa, colocando alguns efeitos sonoros, e equalizando a mùsica como um todo.
Finalizando
Feito isso, eu crio uma arte para a faixa gravada.
Baixo imagens gratuitas pelo site Freepik, e depois edito no site de diagramação CANVA, também gratuito.
Compartilhando
Aí o ultimo passo é upar a faixa junto com a arte no Bandcamp e também no SoundCloud.
Divulgando
Não tenho muita neura quanto a isso. Divulgo em algumas comunidades de Horror Punk lá fora, no Facebook e Instagram. E em algumas comunidades aqui.
Também faço posts frequentes na minha página pessoal, para apresentar as músicas para um público mais geral.
E hoje temos uma análise de uma gravação de uma das minhas bandas favoritas, o Pesadelo Brasileiro. A banda é um verdadeiro patrimônio da mùsica nacional.
Obs: Encontrei um registro dos MEDONHOS com o mesmo título de mùsica. Não saberia dizer se se trata de um cover ou algo assim. Independente disso, toda a análise se baseia na gravação do Pesadelo Brasileiro no disco Comedores de Cérebro, de 2018.
PS: SIM, confurmei com a banda. É um cover dos Medonhos.
Mas antes, umas palavrinhas sobre a forma como foi recebida a primeira análise musical que eu fiz, do Zumbis do Espaço.
Infelizmente, muita gente não entendeu minimamente qual a proposta da matéria.
Teve gente que ficou irritada ou inconformada achando que era um "Tutorial" ou "guia", como se eu estivesse tentando ensinar a tocar.
Sinceramente, achei essa opinião de uma falta de vontade IMENSA. Chego a arriscar que só não lendo a matéria inteira pra chegar nessa conclusão nada a ver.
Fato é que análises musicais são super comuns em QUALQUER estilo do mundo.
Se você procurar no Google ou no YouTube, tem gente analisando musicas desde Karol Konka até do Iron Maiden.
Porra, se Karol Konka pode ter musica analisada, por que as bandas de Horror Punk nacionais que fazem mùsica foda não podem?
No caso dessa não ser "o perfil da cena", eu me questiono:
Por que não expandir os horizontes da cena?
Ou ainda:
"E se fosse de fato pra ensinar a tocar, seria algo tão ruim e ofensivo assim? No cifra club tem vídeo de gente ensinando a tocar de "Festa no Apê" do Latino á "Black Dog" do Led Zeppelin. Seria tão ruim mesmo se alguém procurasse e achasse um vídeo ou tutorial de alguém ensinando a tocar "Mais Morto do que Vivo" do Cabeças Voadoras?
Nem todo mundo que curte o estilo faz "parte da cena". Por que não criar conteúdo capaz de atingir tb essa galera, e no futuro, eles com certeza vão querer fazer parte.
Enfim, essa é minha opinião, que dou com sinceridade, sabendo que corro o risco de irritar ainda mais a galera e ficar com "meu filme queimado"... Mas não poderia deixar de falar.
Desabafos de lado, vamos para a análise musical da canção "Minha Amada" da forma como ela é apresentada no disco Comedores de Cérebro.
É a primeira música do disco:
Panorama Geral
Se trata de uma composição muito interessante do ponto de vista musical, pois apresenta uma mescla muito bem feita de punk rock mais visceral/tradicional com melodias vocais que remetem de certa forma a melodias tipicamente brasileiras e regionais, ao passo que ritmicamente a banda alterna entre o punk e levadas, acompanhado de harmonias, vindas do rockabilly dos anos 50.
PQP, e ainda não querem que eu analise uma preciosidade dessa! Vai entender....
Vou falar em linha gerais, e não vou colocar aqui nem a cifra nem a letra. Nos próximos dias vou estar menos puto, aí volto a fazer tudo bonitinho.
A música começa com um power chord, deixando claro qual o tom da mùsica. De ouvido, me parece que a mùsica está sendo tocada em A. Vou então analisar dentro desse tom. Caso esteja errado, é só transpor, uma vez que as relações harmônicas são as mesmas independentes da tonalidade escolhida.
Depois de 4 vezes soando solto, começa já com o vocal, onde a banda apresenta uma harmonia clássica que se baseia em TÔNICA - SUBDOMINANTE-DOMINANTE, também escrita como I-IV-V.
Os 3 acordes classicos do punk Rock.
O que muita gente nao sabe é que bem antes do punk, o blues era todo construido em cima desses 3 acordes. A única diferença é que a Dominante, no Blues, vinha sempre com Sétima.
A famosa estrutura do Blues conhecida como "Twelve Bar Blues" nada mais era que uma "formula" ou "forma" de composição. Muitos Bluesmen famosos passaram a vida só tocando esses 3 acordes.
Esse tipo de blues foi muito utilizado principalmente nos estados do sul, sendo o mais famoso o chamado "Mississippi Delta Blues", de nomes como Mississipi John Hurt e outros.
Continuando
O Refrão e a transição rítmica
O refrão é delicioso, mas o que acontece depois que realmente surprende e leva a mùsica para outro patamar.
O fato do refrão ser agressivo tanto sonoramente como liricamente acentua ainda mais a transição.
Ao final da última repetição do refrão, uma cadência descendente na harmonia, aconpanhada de um ralentando no ritmo, conduz a composição para algo que lembra muito o rockabilly.
O rockabilly é um filho bastardo do blues (com muita coisa fe country também), e é popularmente chamado de "rock anos 50". Nem todo rock dos anos 50 é rockabilly, mas isso é uma outra história...
O rockabilly está na gênese no psychobilly e Gothabilly, gêneros "primos" do Horror punk.
Aí, do nada, a banda retorna ao refrão, sem preparação nem nada, o que contrasta muito bem com a cadência que introduziu a mudança de ritmo, deixando a mùsica estranhamente redonda nessa alternância.
É isso.
Espero que tenha sido Interessante para alguns, e menos ofensivo para outros.
Fato é que existem no mundo centenas e centenas de bandas que fazem Horror Punk. Cada uma delas traz em seus sons influências diversas.
Algumas flertam com o metal.
Mas o metal possui infinitos subgêneros, e uma banda de Horror punk pode ter influências de Death Metal, Trash metal, black, doom.
Outras se enveredam por sonoridades mais distantes, como Bluegrass, country music, blues.
Existem gêneros de alguma forma próximos ao Horror Punk, como Gothabilly, psychobilly, e quando bandas de Horror Punk buscam sonoridades desses estilos, as vezes classificar o conjunto fica muito, muito difícil.
Pode parecer facil, mas as vezes é bem difícil classificar um grupo. Muitas vezes, a propria banda tem uma opinião diversa do público em geral.
Cito a minha própria banda, a TLHP GRAVEYARD, cujo primeiro disco "Halloween Feelings" foi classificado por um ouvinte da Guatemala como sendo uma banda de rock gótico com influências de Horror Punk, sendo que na minha própria opinião, que sou literalmente a banda inteira, a sonoridade é justamente o contrário. O meu disco "In the Darkness We Hide" por sua vez foi classificado pelos poucos que ouviram como um "rock de estrada". Já pra mim, é Horror punk até o osso.
As vezes eu escrevo resenhas e recebo críticas até agressivas quanto a isso.
Recentemente eu escrevi uma resenha sobre a banda Bermes onde citei o CPM22 como influência, e um amigo meu veio me dizer o quanto isso era absurdo.
Vamos analisar friamente os fatos
Fato é que não existem definições fechadas do que seria Horror punk.
Existem alguns elementos de DEVEM estar presentes: o "Horror" e o "punk".
Mas dentro desses 2 conceitos, por si só é possível encontrar diferenças enormes. O Punk de um Sex Pistols é bem diferente do punk dos Garotos Podres, e o Horror da Hammer e da Universal nas decadas de 50 e 60 é bem diferente do horror dos filmes trash da decada de 80, que por sua vez é muito diferente do Horror de casos reais como do Maníaco do Parque ou dos canibais de Garanhuns.
Quem quer achar uma definição 100% precisa e imutável só vai estar cagando regra, pura e simplesmente.
E basta lembrar que o nome "Horror Punk" foi cunhado a não muito tempo atrás, ainda que o gênero já existisse há muito tempo.
É por isso que é importante ter variedade não apenas de bandas, mas também de crítica e de opiniões.
O estilo é forte e a cena massa, mas ainda tem pouca gente fazendo resenhas, por exemplo.
.
Pelo fato de eu escrever com uma constância até que obsessiva, muitos pensam que eu gasto muito tempo fazendo isso.
Mal sabem eles que 90% do que eu escrevo é esperando a agua do café esquentar, ou no comercial do filme na tv, ou mesmo no banheiro.
Segundo ponto: no rock e no metal, a maior parte das classificações foram reforçadas muito mais por questões mercadológicas.
As grandes gravadoras precisavam (e ainda precisam) mostrar que o produto que ela está vendendo é PARA VOCÊ.
Uma prova disso é a banda de rock RUSH. Hoje, quase 50 anos depois, ainda se discute qual o estilo da banda.
"Ah, então você está falando que não existe gênero musical, TLHP? Está falando que não existe Horror Punk então (imagino o cara falando isso com um taco de baseball com um prego na ponta)?"
É claro que não foi isso que eu falei. Quem entendeu isso definitivamente não captou a mensagem.
O que eu disse é que classificações passam por filtros pessoais. Muitos elementos vão ser percebidos de forma igual por todos, mas muitos não.
Quando eu falo que ouvi influência de CPM22 no som do Bermes, eu não estou falando que essa influência existe de fato, apenas o que EU captei.
Talvez a propria banda ache isso um absurdo.
Mas é mùsica.
Mùsica que não gera diferentes Interpretações tem algum problema grave.
O artigo de hoje vem com uma proposta um pouca diferente e ousada. Traçar o que o Horror Punk tem em comum com mùsica erudita.
A verdade é que existem vários pontos em que Horror Punk e Mùsica Erudita se tocam, e como NINGUÉM falou disso até agora, eu serei o chato e mala que fará. Sinto muito por isso.
"Ahhhh, TLHP, mas Horror Punk é atitude, é morte, é choque!".
É tudo isso sim. Mas também é um estilo musical, e por isso tem muitos aspectos além desses.
Antes, uma palavrinha sobre minha formação musical e o por que de abordar esse tema.
Eu me formei em Mùsica - Licenciatura e Violão Erudito pelo Instituto de Artes da Unicamp. Nunca fui muito de ouvir música erudita, na verdade.
Mas sempre tive verdadeira obsessão por teoria musical e historia da mùsica, e o melhor lugar pra me aprofundar nisso seria estudando mùsica erudita.
Mas meu lance sempre foi rock e Heavy Metal, mùsica pesada em geral e logicamente o Horror Punk.
O tema da Morte e do Horror
Horror. A característica mais importante do Horror Punk. Nas letras, nas artes, muitas vezes nas vestimentas... Horror em tudo. Baseando-se em filmes de terror trashs ou em casos reais sinistraços, o Horror é o motor do estilo.
A música Erudita SEMPRE teve ligação com isso também. Tem muita história bizarra e macabra no estilo.
O compositor Dvorak compôs uma obra inteira em 1874- Danse Macabre - que contava a historia de esqueletos que se levantavam dos túmulos em uma noite de Lua cheia, e começavam a dançar grotescamente entre eles.
Isso é Horror Punk total.
Durante a segunda guerra mundial, em 1941, o compositor francês Olivier Messiaen escreveu uma música chamada "Quarteto para o Fim dos Tempos", uma composição erudita que falava do Apocalipse e do fim do mundo.
Detalhe: ele estava em um Campo de Concentração nazista na Polônia. Todos os outros músicos também. E a peça foi apresentada para os soldados alemães e outros prisioneiros que ali estavam.
A maioria dos músicos foram mortos dias depois.
Não consigo imaginar algo mais sinistro que isso.
Era comum membros da nobreza procurarem grandes compositores para que esses conpusessem "réquiems", musicas fúnebres para tocar em enterros. Muitas vezes, a mùsica era para o enterro da propria pessoa que estava encomendando.
Imagina a cena: o cara chegava pro Mozart e falava: "Quando eu morrer, eu quero uma música assim..."
E aí ficava do lado do compositor, dando dicas e instruções do que ele queria ou não que tocasse no enterro dele.
Praticamente todos os grandes compositores dos períodos barroco e clássico fizeram isso:
Vivaldi, Bach, Haendel, Mozart, Beethoven.
Sonoridade
Não é apenas no tema que Horror Punk e Mùsica Erudita se tocam. No som também.
Toda vez que os compositores eruditos querem abordar algo sinistro ou macabro, eles utilizam técnicas e instrumentos que conferem uma característica agressiva ao som, áspera, dura e direta.
É comum o uso de percussão nessas composições, com ritmos mais constantes e acelerados. Vide a mùsica do Dvorak.
Som áspero, agressivo, direto...onde mais temos isso mesmo?!?
Logicamente, eu não estou afirmando que a mùsica Erudita influência ou influenciou o Horror Punk. Sei muito bem que maioria dos fãs de Horror Punk está cagando total pra musica clássica. Acreditem, eu também estou.
Mas fato é que TODA a mùsica atual, querendo ou não, recebe influência do que foi feito no passado.
Você pode negar isso, claro. Da mesma forma que você pode negar que a Terra seja redonda ( ligeiramente achatada nos pólos).
E como falei, é só uma análise.
Ainda pretendo ir mais fundo nessa questão no futuro, com um artigo mais enfadonho ainda.
Bom, galera, essa matéria tem a
ideia de ver de que forma a cena horror punk nacional se adaptou a esses tempos de isolamento
social, e acima de tudo, deixar claro como o cenário de nosso estilo musical
soube lidar de forma positiva com alguns problemas que já existiam muito antes
da pandemia acontecer.
Vou falar dos aspectos positivos
dessa fase para o horror punk, mas vejam bem: eu NÂO estou dizendo que a
pandemia foi uma coisa boa! Se você entendeu isso, vá se tratar.
Eu estou dizendo que por causa
dela, TODO mundo teve que se adaptar, e no cenário musical todas as cenas
tiveram que se reinventar, e algumas souberam aproveitar esse momento melhores
do que outras, como foi o caso do horror punk.
Também gostaria de dizer que eu
vou SIM tocar no assunto das panelinhas dentro da cena. Sei que muita gente
está cansada de ouvir falar disso, outros não concordam, mas enfim: é o MEU
blog, o MEU texto, e o plano não é fazer carinho na cabeça de ninguém, mas sim
dar minha opinião (de merda) sobre isso.
EU nasci, cresci e vivi em
comunidades rurais. Atualmente, moro em um sítio muito afastado da cidade.
Sempre estive “fora” da cena, literalmente.
Mas não foi por falta de
tentativas. Quando eu era adolescente e tinha as raras ocasiões de ir em festivais
do estilo (ou algo próximo), sempre rolava uma piada sem graça, uma
desconfiança, afinal, eu não estava “vestido de punk rocker”.
Quando eu começava a falar das
bandas que gostava, sempre tinha um filho da puta que perguntava: “Ué, mas você
não curte Almir Sater? Chitãozinho e Xororó?”.
EU ficava puto da vida, e tinha
que explicar pacientemente que não estava nos “trajes” simplesmente porque não
tinha dinheiro para isso, para “ser visto como igual” pela galera.
Ir em shows era algo quase impossível,
e continua sendo, e falo antes da pandemia.
Ouvia falar de festivais em
barzinhos em São Paulo, Itanhaém, na Lua, e ficava maluco, querendo muito fazer
parte de tudo isso.
Aí veio a pandemia.
Eu que já moro isolado de tudo,
tive que ficar mais isolado ainda, uma vez que minha esposa e meus sogros (meu
sogro faleceu recentemente, por sinal) são todos do grupo de risco.
Mas ao contrário do que eu
esperava, eu comecei a perceber que a cena que eu tanto admirava se abria.
Estava mais fácil para alguém enfiado no meio da roça acompanhar o que o Horror
Punk estava trazendo, com meu celular e um plano de 80 reais da Vivo.
Apresentações musicais que antes
só poderiam ser assistidas naquele barzinho de motoqueiros em Limeira, ou
Campinas, ou na Puta que Pariu, agora eu podia ver transmitido pelo facebook.
Logicamente, algumas bandas
transmitiam coisas antes, mas depois da pandemia foi muito maior esse
movimento. Se eu perdesse a exibição ao vivo, depois o vídeo estaria lá, na página
da banda para assistir.
Percebi também que algumas bandas
começaram a se comunicar mais com o público.
Porque vou falar: tem banda que
parecia se esforçar na falta de comunicação.
Claro, casos específicos, não
quero generalizar, mas que ainda sim aconteciam com frequência maior do que
deveria acontecer.
Além de Horror Punk, eu acompanho
outras cenas, algumas próximas como a cena do metal, outras bem distantes, como
a cena da música erudita.
Ambas, a cena metal e o pessoal
do erudito, se encolheram na pandemia. Algumas bandas praticamente sumiram no
quesito comunicação.
O Horror punk fez o caminho
contrário; se expandiu.
Para as bandas, eu acredito que
deva ter sido tempos muito difíceis. Dificuldades para ensaiar, dificuldades para
gravar suas músicas e discos, todos os festivais e apresentações cancelados.
Com certeza deve ter ocorrido queda de vendas daquelas que trabalham com
material físico.
Mas até onde percebo, a galera se
esforçou muito para manter a chama acesa.
Tenho certeza que muita gente
como eu, que ficava lá de fora, só olhando, se sentiu seguro pra se aproximar
da galera nesses tempos.
Aqui, do lado de cá do meu
celular, escrevendo isso, não importa se eu estou vestido igual o Chico Bento
ou igual ao cara do Misfits.
É isso.
Espero que quando tudo isso
passar, a galera mantenha todo o saldo positivo, e não regrida para algum ponto
anterior.
Bom, galera, a verdade é que eu tenho uma coleção enorme ligada ao Horror Punk. Essa coleção vai desde bandas que prezam pela qualidade, até verdadeiros desastres musicais.
Desde discos com qualidade cristalina como os discos do Goolsby, até discos parecidos com os meus, tosquissimo.
Nessa sessão, eu coloco toda minha biblioteca sonora no modo aleatorio, e a primeira música que tocar vai me dizer qual álbum eu vou fazer a resenha.
Dessa vez, infelizmente, foi o ep "Dungeon Day", da banda Army of Walking Corpses.
A banda foi fundada na Inglaterra em 2009, e aparentemente encerrou as atividades em 2018.
É uma banda que teve uma evolução bacana.
Aqui nesse ep tudo é tosco e mal gravado, mas no canal da banda do YouTube, que tem a impressionante soma de 9 inscritos (e considerando que os membros da banda representam metade desse número...) existem versões mais trabalhadas e produzidas, mostrando um trabalho consistente.
Mas vamos esquecer o futuro da banda e nos ater apenas nesse EP.
Esse EP pode ser visto sob duas perspectivas: da produção , e da composição.
Do ponto de vista da composição, temos coisas interessantes. Trata-se de um Horror Punk que por muito pouco poderia facilmente ser classificado como heavy metal. As 4 musicas do EP são bem estruturadas, e aparentemente cada Integrante faz seu trabalho de forma competente.
As músicas "Invasion of Mutant Slugs" e a faixa "Never Alone" são composições MUITO, MUITO boas. Essa última tem uma pegada Gothic Metal a lá 69 Eyes que soou interessante aqui.
"What's the matter" também não faz feio, sendo bem agressiva, e com excelente melodia vocal.
A mùsica "Roadkiller" já é mais fraquinha, sendo que metade da canção é só um teclado atmosférico que pouco tem relação com coisa alguma.
O problema está na gravação.
O som, principalmente os graves, ficou embolado demais. Tem horas em que o som do bumbo da bateria fica tão embolado com o baixo que se torna dificil identificar um ou outro.
Mas claro, temos que lembrar que esse EP nunca foi lançado oficialmente.
Provavelmente é algo que a banda gravou para divulgar em um pequeno grupo de amigos, ou mesmo para ter um registro de composições, e que algum não muito amigo vazou por aí.
Concluindo: apesar de toscamente gravado, tem lá sua diversão.
Essa dica de hoje pode ser muito óbvia para muitos de vocês...mas uma vez que é novidade pra mim (conheci no fim do ano passado), resolvi postar assim mesmo.
"Mas por que falar do Bandcamp e não do Spotfy, que é muito mais conhecido?"
Porque quando o assunto é Horror Punk, no Bandcamp tem bandas MUITO lado B, underground.
O meu próprio Projeto, os discos do TLHP GRAVEYARD, estão lá.
Sem entrar em detalhes chatos, o Bandcamp trata artistas independentes de forma absurdamente mais justa do que o Spotfy. Não conheço outras plataformas, como Deezer e afins, então quanto a essas nem sei dizer.
Enfim, a dica é essa:
Entrem no site bandcamp.com. Nem precisa ter registro.
Digitem na busca "Horror Punk", e pronto!
Um mundo underground de Horror Punk se descortina. Faixas, álbuns inteiros. Se você se cadastrar, terá acesso a muito mais.
Enfim, pode até ser que no Spotfy tenha as mesmas coisas, e até mais.
Mas vou divulgar o Bandcamp pelo lado underground e pela forma justa como trabalha.
Hoje na sessão "Opinião", vou falar rapidamente de um disco que escutei hoje pela primeira.
Trata-se do disco "To Hell and Back", da banda nova iorquina de Horror Punk Blast from Oblivion.
Lançado em 2014, a banda aposta, segundo as próprias palavras, em um "Horror Punk com influências de trash metal".
Eu gostei do som dos caras, apesar de achar um exagero dizer que é um mix de Horror Punk com trash.
Todas as músicas apresentam um estilo Horror Punk bem tradicional, na verdade.
O trash talvez faça referência ao estilo vocal adotado, que fica em um meio termo entre o gutural e o rasgado. E pra ser sincero, acho o vocal a parte mais fraca do disco.
Não chega a comprometer o trabalho, mas deixa absolutamente TODAS as músicas com a mesma cara, tornando a escuta do álbum inteiro um pouco maçante.
Mas enfim, entre prós e contras, escutar esse disco não é perda de tempo, e tem passagens realmente boas.
A produção é meio vacilante, mas isso sinceramente é algo que nunca vai me incomodar.
Como sempre gosto de frisar, eu fico muito mais com um pé atrás quando esbarro em produções cristalinas do que com produções podreiras.
Da pra escutar o disco todo aqui no Bandcamp da banda:
Apresentar artes aleatórias ligadas ao Horror Punk.
Geralmente serão capas de discos, nacionais e internacionais, mas também poderá aparecer artes de hqs, filmes de terror e até mesmo meus próprios quadros e desenhos!