sexta-feira, 28 de maio de 2021

Relatos Sobrenaturais pessoais 1 - o Caso do Exorcismo secreto do Vaticano

 Esse artigo inaugura uma nova sessão no blog: casos que possuam relação com o sobrenatural que de alguma forma eu tenha vivido e presenciado direta ou indiretamente.

Desde a minha adolescência eu tenho interesse enorme por fenômenos paranormais, e venho estudando isso ininterruptamente desde então. Mais de uma vez empreendi pesquisas in loco sobre isso, mas hoje vou falar de um caso que presenciei apenas tangencial mente. Ainda bem.

Os tempos de monge

Como todas as pessoas próximas a mim sabem, eu já fui, literalmente, um monge católico. Entre 2003 e 2007, fui postulante e noviço no mosteiro Nossa senhora de São Bernardo, localizado em São José do Rio Pardo, estado de São Paulo, na época em que o Abade do local era Dom Edmilson, atual bispo da diocese de Barretos. Aqui algumas fotos do local:


O Exorcismo Secreto

Os monastérios mantém relações próximas e constantes com o próprio Vaticano. Assim, tudo que acontecia lá era passado para nós em primeira mão. 

Na maioria das vezes, não passavam de notícias burocráticas sobre cardeais e outros monastérios.

Mas, em 2006, todos os mosteiros e conventos do mundo receberam uma informação bastante diferente do usual.

Foi-nos passado que após muitos anos o Vaticano havia reconhecido um caso de exorcismo como verdadeiro. Era uma adolescente da própria Itália. A menina e alguns familiares haviam sido acolhidos dentro do próprio Vaticano, e lá estavam alojados enquanto durasse o processo do ritual.

Na notificação que nos foi passada, a Santa Se pedia que o caso fosse tratado em sigilo, uma vez que oficialmente nenhuma nota sobre o caso havia sido feita á imprensa.

O documento trazia uma série de datas com horários específicos (tendo o fuso horário do Vaticano como oficial) no qual seriam realizadas as sessões de exorcismo, e os mosteiros eram convidados (mas não obrigados) a se reunirem em oração nesses momentos. Lembro um dia em que acordamos as 2 da manhã para acompanhar esse calendário.

Junto com a notificação, foi passado também algumas fotos do caso, e confesso que até hoje, 14 anos depois, ainda estão entre as coisas mais impressionantes e verdadeiramente assustadoras que já vi na vida.

Deixei a vida monástica poucos meses depois, por motivos pessoais,antes  que o caso tivesse avanços ou soluções.

Até hoje o Vaticano não tornou esse caso público, e eu me pergunto por que.

Lembro que durante os dias de oração, alguns monges diziam ver vultos nos muitos corredores escuros do mosteiro, e um deles disse um dia ter ouvido o som de uma criança chorando enquanto se dirigia da cela para a capela.

Eu mesmo não presenciei nada de inusitado.

Eu moro em um sítio com mais de 100 anos de histórias estranhas, algumas das quais eu mesmo presenciei e vivi(contarei aqui aos poucos).

Mas poucas coisas me deixam mais intrigado e com a pulga atrás da orelha do que esse exorcismo "secreto" ocorrido em 2006...

terça-feira, 18 de maio de 2021

Bem Vindo à Casa dos Mortos - Resenha de Livro

 A coleção Goosebumps é outra série geralmente subestimada pelos fãs de horror punk. O tom infanto-juvenil e as histórias curtas (média de 60-70 páginas por livro) faz muito fã do horror considerar essas obras como menores dentro do gênero.

Mas algo está errado nessa análise, muito errado.

Primeiro, não dá para subestimar assim tão facilmente essa que é a série de livros de horror mais vendida no mundo em todos os tempos; somando tudo, essa coleção vendeu mais de 400 milhões de cópias.

É a segunda série de livros mais vendida no mundo, ficando atrás apenas da saga Harry Potter (esses dados consideram todos os livros das sagas/séries). E SIM, esse cara - R.L.Stine - já vendeu mais livros de terror do que o Stephen King.

Dá pra ter uma dimensão disso? Senhor dos Anéis vendeu menos do que a coleção Goosebumps.

logicamente, não da para julgar a qualidade de algo exclusivamente pelo sucesso comercial. 50 Tons de Cinza fez milhôes e milhões, e ainda assim continua sendo uma leitura horrorosa (sim, eu li os 3 livros, mas queria "desler").

O que não dá para negar é que por 400 milhões de vezes alguém foi apresentado a uma história de terror por meio dessa coleção.

Mas essa resenha não foi feita para exaltar o sucesso comercial da série, e sim para falar das qualidades literárias da mesma. E ela possui muitas qualidades.


Bem Vindo a Casa dos Mortos


Esse é o primeiro livro da série, lançado em 1992.

Ele conta uma história tradicional do horror, onde uma família herda uma casa - na verdade uma mansão - em uma misteriosa cidade do interior, e por uma série de questões decidem se mudar para lá.

Logo os dois filhos do casal começam a notar coisas estranhas não apenas na casa, mas também nas pessoas e na própria cidade em que estão.

Apesar do tamanho pequeno do livro - eu tenho a edição original em inglês, que tem 80 páginas - o autor R.L.Stine consegue construir uma trama que vai crescendo em ritmo lento, acentuando as estranhezas do cenário, de forma que nós leitores nos sentimos muito conectados com a familia descrita no livro, também conhecendo o local e lidando com as mesmas estranhezas.

Eu acho que esse livro é uma aula de que as vezes, menos é mais. Mais páginas faria o livro ficar arrastado demais. Aqui está tudo na medida certa.

Talvez o unico problema dos livros do R.L.Stine sejam os finais. A gente sabe que de ALGUMA forma as pessoas vão ficar bem no final. Não há espaço para fins escatológicos ou macabros aqui. Claro, muitas vezes fica no ar se o mal daquela aventura foi relmente banido (e são tantos livros que eles invarialvelmente voltam), mas depois quando eles voltam, as pessoas vão ficar bem novamente.

Mas essa é uma questão nem tão complicada de entender.

O Mestre Stephen King disse que não gosta do livro Pet Samatary (aqui no Brasil geralmente chamado de "Cemitério Maldito") por ter escrito um final, segundo ele próprio, "totalmente sem esperança. A maioria dos livros do king, mesmo que de uma forma muito mais visceral, intensa e competente, também trabalha com essa ideia de que o final traz redenção e superação.

Enfim, recomendo muito os livros do R.L.Stine.

Deixem os pré-conceitos de lado, e aproveitem o horror. 400 milhões de vezes isso foi feito com esses livros, sempre cabe mais um.

sábado, 15 de maio de 2021

O Espantalho - Resenha de Livro

A coleção Hora do Espanto é uma série de livros de terror infanto-juvenis escrita pelo autor Edgar J. Hyde.Os livros são relativamente bem sucedidos lá fora, mas aqui no Brasil vejo muita gente falando mal dessa coleção, argumentando que as histórias são muito bestas e que NUNCA dão medo. Acredito que esse tipo argumento venha geralmente de quem não entendeu a essência da proposta da série.


Essa coleção foi feita como um tipo de "cine trash+ sessão da tarde", propositadamente feita para trazer historias de terror totalmente inofensivas. Muita gente compara essa serie com Stephen King ou Clive Baker, e LOGICAMENTE, chega a conclusões bem disparatadas.

Seria o equivalente a analisar um disco do Pink Floyd usando Canibal Corpse como parâmetro de comparação, ou vice versa.

A coleção Hora do Espanto está mais para a série, também infanto-juvenil, Goosebumps.

Temos uma história clássica de espantalho. Todos os elementos que uma história dessas pede está aqui: uma fazenda antiga no meio do nada, uma família inocente, mortes misteriosas se sucedendo, um celeiro. 

Eu, que li a coleção inteira de Edgar J. Hyde, percebo que o autor se diverte muito ao utilizar os clichês do Horror. Invés de tentar ser o novo R.L.Stine ou mesmo o Estevão Rei, me parece que o autor só quer contar uma boa história de espanto, dessas que facilmente seriam contadas em volta de uma fogueira em um acampamento de escoteiros.

Essa despretensiosidade (existe essa palavra?) acaba gerando livros ligeiros e muito agradáveis de se ler. A maioria dos livros da coleção eu li em uma única sentada, e o Espantalho foi nessa pegada.

Essa versão nacional geralmente é encontrada a preços bem acessíveis na internet e em locais como lojas Americanas.

É pra todo mundo?

Não.

Quem busca terror com profundidade,com personagens bem construidos, e algo que realmente passe o sentimento do medo, nem precisa tentar isso aqui. Sério, não há nada disso nesse livro.

Agora quem quer lembrar como era assistir aqueles filmes de terror que passavam na Sessão da Tarde ou no antigo Cinema em Casa, aqui terá um prato cheio de diversão e nostalgia.


sexta-feira, 14 de maio de 2021

Calabrese - um bom exemplo a ser seguido

Começo confessando que não curto o som da banda Calabrese. Já tentei ouvir em muitas oportunidades e ocasiões, mas nunca rolou "aquele tchan".


Não acho ruim, jamais. É bem feito, e se analisado do ponto de vista tecnicamente musical, tem muitas qualidades. Mas nunca escutei uma música deles que me desse vontade de voltar e escutar de novo.

Isso, no entanto, não me impede de admirar a banda por outros motivos, que direi abaixo.

Vejam bem, tudo que se segue é a minha percepção; talvez você conheça a banda mais de perto e tenha outras versões dos fatos.

Esse post é para comentar sobre a presença das bandas nas redes sociais. Ao menos, naquelas em que eu acompanho.


Uma banda atenciosa


Duas coisas me chamam muito a atenção sobre a presença da banda nas redes:

1- Eles sempre respondem aos comentários nos posts que eles fazem. 

2- Eles comentam, espontaneamente, nos posts de outras pessoas.


Sei que pode parecer bobeira, mas é um diferencial e algo raríssimo de se ver hoje, em qualquer estilo.

Ja cansei de ver bandas bem menos famosas que o Calabrese ignorando comentários de fãs. 

O mais bacana que eu vejo neles é o fato de que eles interagem com posts de pessoas normais, e não apenas organizadores de festivais, bandas maiores e marcas que possam investir na banda. Eles passam a impressão de que eles estão realmente querendo interagir, e não apenas se promover.

NÃO estou dizendo que o Calabrese seja a ÚNICA banda que faça isso na cena.

vejo outras bandas, inclusive na cena nacional, agindo da mesma forma. Não a maioria.

Escolhi o Calabrese justamente pelo fato de não gostar dos sons dos caras.

Uma banda sempre vai além do som que pratica. Houve uma época em que a identificação passava muito pela estética visual da banda. 

Por exemplo, ainda que o Led Zeppelin tivesse musicas como "Going to California", o som da banda era MUITO mais denso, pesado e distante do que  bandas psicodélicas como Jefferson Airplane; no entanto, o público hiponga da banda era enorme, e muito disso se devia exclusivamente ao visual do Robert Plant.

 Isso lógicamente continua sendo importante, mas o advento das redes sociais também fez com que essa identificação atingisse novos patamares.

Como eu sempre falo, o risco da profissionalização é tornar tudo impessoal, mecânico. Em uma empresa de contabilidade ou em uma fábrica de motores isso seria ótimo, mas no campo das artes não é tão simples assim, não é tão fácil assim.

Dentro do seu gênero, o CALABRESE pode ser considerado um nome grande. Aliás, chego a dizer que talvez a banda esteja no caminho de tornar-se REALMENTE grande.

Enfim, é só isso mesmo.

As vezes acho que o mundo das artes pode fazer a diferença, fugindo das impessoalidades frias e imparciais, e ser próxima e pessoal, mesmo em tempos de pandemia.

Pensei em uma frase do Che Guevara para terminar aqui, mas essa semana já deu a cota de ser chamado de comunista (toda semana, sempre, muitas vezes), e além do mais eu sei que vocês sabem que frase é essa.

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Novo Songbook: Disco "A Night at the GRAVEYARD"

 Galera, é com alegria que lanço o segundo Songbook do projeto, com cifra de todas as 6 musicas do segundo disco.

Agora temos o Songbook do primeiro disco, "Halloween Feelings", e deste aqui.

O plano é até o fim desse ano lançar o Songbook de todos os discos.

Aqui o link para download do pdf, e logo abaixo link do disco para escuta:

Songbook 2: A Night at the GRAVEYARD

E aqui o disco para escuta:

Ouça A Night at the Graveyard, uma playlist de Tarcisio Lucas Pereira no #SoundCloud https://soundcloud.app.goo.gl/a6YMh


Os Desconhecidos: Live 16/05

 Galera, segue um post rapido pra falar sobre a live pelo Facebook que a banda OS DESCONHECIDOS irá realizar via Facebook no dia 16 de maio, esse domingo, as 14:00.


Não vou falar muito sobre a banda aqui porque ela vai ser um dos destaques da edição de junho do Horror Punk Zine.

Mas o que posso dizer é: conheci a banda há alguns dias apenas, e posso dizer com certeza que foi uma das maiores descobertas musicais que fiz nos últimos anos. Falo seríssimo.

Não apenas porque os 3 integrantes são muito jovens - muito MESMO - mas acima de tudo pela competência com que fazem o que fazem.

É tudo muito bom, muito bem feito.

A banda está arrecadando fundos também junto aos fãs e comunidade, o que achei uma iniciativa muito bacana da banda. Principalmente para dar um up na batera.

Eles com certeza merecem, e quem quiser ajudar pode fazer um pix em qualquer valor para a banda.

Aqui o texto e o link do Facebook onde eles falam dessa iniciativa:

"Nossa próxima LIVE será para comemorar a recuperação de nossa página e pedir uma ajuda para a manutenção dos equipamentos, principalmente para a bateria do Dennis (que recentemente fez aniversário). Em meio à pandemia a situação não está nada fácil. Queridos amigos, contamos com vocês. Abração e até lá. 

Aqui o post onde nos comentários vocês podem encontrar a chave Pix:

Post original no Facebook

E pra terminar, alguns vídeos dessa banda fantástica:

Aqui um dos clipes mais legais que já vi na vida:


Aqui uma música com o título da banda:


terça-feira, 11 de maio de 2021

Resenha: O disco de Horror Punk mais tosco da história

 Hoje vou falar de um disco de Horror Punk todo gravado pelo YouTube.

Meu primeiro disco.

É uma pena que não seja comum encontrar resenhas de discos feitas pelas próprias pessoas que gravaram o disco. 

Acredito que gravar um disco, da forma que for, é uma experiência marcante, e seria muito massa se a forma como cada música impactou quem compôs e quem tocou fosse constantemente partilhada. Logicamente, muitas entrevistas são feitas para isso. 

Mas existem dezenas bandas que eu curto que nunca foram entrevistadas. Seria legal se elas por iniciativa própria deixassem registrado algo assim.


O disco mais tosco de todos

Meu primeiro disco, "Halloween Feelings" foi gravado na verdade como 2 vídeos para meu canal do YouTube. Duvidam? 

Aqui os vídeos:



 O Que acontece é que originalmente a proposta era apenas registrar em vídeo essas músicas. Elas eram fruto de um projeto de Halloween que eu desenvolvia em escolas de Inglês, com partidas de RPG.

Acontece que eu assisti os vídeos depois de postar no YouTube, e pensei:

"Vou transformar isso aí em um disco"

Aí basicamente eu converti esses vídeos em áudio, dividi em faixas e "mixei" cada faixa separadamente, utilizando o programa "AUDACITY".

"Mixar" não é bem o termo correto. Eu apenas aumentava o volume, colocava um eco - descobri que um pouco de eco corrige MUITA desafinada na voz, quando não se usa autotune ou semelhante - e colocava um pouco de reverb, e voilá!

10 faixas fresquinhas e incrivelmente toscas rolando por aí.

Mas... pode ser considerado um disco mesmo?

Já me perguntaram isso.

Verdade é que não existe uma definição precisa e inquestionável do que seria um disco. Tem gente lançando 1 hora de microfonia e barulhos de estatística (passem 1 tarde pesquisando "noise music" no Google e depois venham falar comigo) e não há duvidas de que são discos.

A qualidade do som é péssima. 

Mas o disco "War to end all wars" do Malmsteen também foi unanimemente acusado de ter uma péssima qualidade de gravação. As músicas foram consideradas pessimas também. Isso faz com que deixe de ser um disco?

Enquanto a cagação de regra não chega ao ponto de definir exatamente o que é preciso pra algo ser um álbum, temos aqui um álbum. 

Verdade é que eu nunca vi ninguém mais literalmente gravar um disco pelo YouTube. Se eu tivesse um minimo de auto crítica ou senso de qualidade, não teria lançado isso.

Algumas músicas eu realmente gosto. "Ghost Hunter" e "Hey Little Girl" acho especialmente boas.

"Graveyard" acho uma canção péssima. Sem contar que desafinei horrores nela. 

Também realmente não curto nem um pouco a mùsica "The Root from All Evil". Mas essa música inexplicavelmente foi parar em uma coletânea de mùsica UNDERGROUND lá dos States.

Mas isso é assunto para um outro post...

sábado, 8 de maio de 2021

Resenha de Show: Pata de Cachorro: Horror Punk do Cerrado

 A Proposta desse blog sempre foi trazer conteúdo diferenciado, e acho que fazer a resenha de um show online feito através de uma lei de incentivo a cultura com certeza se encaixa nisso. 

Shows exclusivamente online são uma realidade já há algum tempo, e os meios de circulação de resenhas tem a obrigação de abarcar essa modalidade com a mesma atenção e respeito que qualquer outra forma de exibição.


A forma de se lidar com arte mudou drasticamente nesses tempos de pandemia, e ver a banda Pata de Cachorro apresentando esse show é de uma importância enorme para a cena Horror Punk nacional e um exemplo muito bacana para novas bandas. 

Na verdade, escrevo isso enquanto o som/show está rolando.

Tudo está bacaninha: o enquadramento está legal, o som está saindo bom, a banda está descendo a mão nos instrumentos sem dó.

As músicas soam realmente pesadas ao vivo, um ponto positivo para a banda.

Muito bom ver essa circulação dentro da cena. 

A lei Aldir Blanc surgiu justamente no intuito de promover a cultura e artistas em tempos como esse, bem como tentar minimizar os impactos da pandemia sobre artistas e bandas. Participar dessa lei demonstra uma banda não só antenada ao mundo artístico, do qual se vê inserida, como mostra a vontade do conjunto de continuar mostrando sua música da forma que for possível.

Esse é o novo normal, e enquanto durar, vamos nos adaptar a ele.

Todos os parabéns à banda!

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Opinião Horror Punk: O espírito "Faça Você Mesmo" não é mais como era antigamente?

 Eu sou muito adepto da postura "Faça Você Mesmo", que o punk popularizou (embora ao longo da história muita gente ja estivesse praticando isso, de Leonardo da Vinci ao blues aos caras que inventaram a guitarra elétrica).

Não apenas na mùsica, onde gravei de forma 200% artesanal 5 discos e 1 EP usando um celular, mas também em outras áreas eu procuro levar o "Faça Você Mesmo" em tudo. 

Também atuo como escritor e já publiquei algumas coisas por meio de editoras, de uma maneira mais formal. Eis aqui alguns dos meus trabalhos publicados nesse modelo mais "comum". Sou um dos autores de cada uma dessas coletâneas :




Mas fato é que nunca gostei muito desse esquema de precisar da aprovação de alguém para que eu possa mostrar meu trabalho. 

Ou pior: depender da aprovação de alguém para produzir.

Por isso, montei minha própria editora independente, a TLHP GAMES, onde eu literalmente confecciono o Livro todo, do texto à diagramação, da arte à divulgação. Eis aqui alguns trabalhos que ja publiquei de forma Independente:




O "Faça Você Mesmo" diz que você não deve ficar esperando as condições ideias caírem do céu; jamais. Dentro dessa filosofia, temos 2 caminhos possíveis: correr atrás para que as condições ideiais (ou algo próximo disso) sejam alcançadas, ou então que se faça o pretendido com aquilo que temos em mãos AGORA.

As duas posturas são excelentes e válidas. Mas o segundo caminho mora no meu coração. 

Mas...as vezes me parece que as demandas e exigências do mercado atual, em tudo, tem mudado o "Do it Yourself".

Será que o "Faça Você Mesmo" não é mais como era antigamente?


A minha Visão 


Eu acho que o mercado tem se esforçado muito para conter e até mesmo barrar o "Faça Você Mesmo". Quanto mais gente embarcar nessa de verdade, menos os artistas dependerão de terceiros.

Sites como CATARSE, KICKANTE, APOIA-SE, KICKSTARTER, com a ideia de Financiamento Coletivo tem trabalho fortemente com a intenção de diminuir a distância entre a ideia e o final. De dar ferramentas para que projetos independentes possam cada vez mais se concretizar de forma independente mesmo.

 Por exemplo, o livro acima "Cybercidades e SYnthwave" foi lançado dessa forma, através de FCs. Eu vendi o livro antes sequer dele ter sido escrito. Você apresenta a ideia, e quem "comprar" essa ideia, apoia.

Ao mesmo tempo, e falando agora especificamente de mùsica, as tecnologias de gravação e as formas de promoção evoluíram tanto que a maioria esmagadora dos artistas também tem altos parâmetros de todos os elementos que eles querem para seus trabalhos. Isso é muito bom, mas já vi mais de um projeto ir pra gaveta da eternidade pelo fato da banda não ter como atingir esses parâmetros, e preferir NÃO lançar algo do que lançar com "adaptações".

Algumas gravações que nos anos 70, 80 seriam consideradas "ok" muito provavelmente hoje em dia seriam motivo de chacota.

Os meus discos são diariamente criticados e desprezados por conta da qualidade de gravação. Porque eu literalmente gravo tudo no celular. Se eu continuo compondo e gravando assim, é devido a um gosto imenso por esse "Faça Você Mesmo" mais visceral, mais lo-fi.

 E também por estar cagando para críticas e opinião alheia, confesso. Eu não dou a mínima.

Nunca entenderei quem precisa de likes constantes e elogios pra continuar produzindo. Elogios são legais, mas depender deles é um inferno eterno. Meu projeto musical surgiu como uma brincadeira pedagógica e acabou dando mais frutos que o esperado, como participação em uma coletânea norte americana (com a música "The Root from All Evil") e ter musica transformada em tema oficial da Editora 101 GAMES (com a música "Vampires are Awake). Dentro do que eu poderia esperar dessa tosqueira, já foi infinitamente além.

Mas voltando ao "Faça Você Mesmo"...

A inserção em qualquer tipo de mercado tem exigido cada vez mais "profissionalização". Não estou dizendo que isso é ruim. Isso tende a manter a qualidade do que a cena apresenta alta.

Mas TEM QUE EXISTIR o lado tosco da coisa. Tem que existir pessoas fazendo coisas de uma forma que qualquer pessoa veja e pense: "eu também posso fazer isso!". Muita gente vai entrar para cena por isso.

E é o Faça Você Mesmo que geralmente acrescenta esse aspecto a qualquer cena ou mercado.

A profissionalização é logicamente um caminho sem volta, e traz muita coisa boa. Mas na minha opinião traz como consequência negativa um certo engessamento da espontaneidade. Tem que ter a galera gravando em uma mesa de 32 canais. É importante que tenha. Mas tem que ter também a galera gravando o ensaio na garagem e lançando isso na cara e na coragem.

É uma visão ingênua, infantil, de um mundo que não existe mais?

Pode até ser. Provavelmente é tudo isso mesmo.

Mas é uma visão que sempre defenderei.

Não digo que nunca sairei dela; quero sim um dia pegar umas 6 ou 7 musicas do meu projeto e gravar num estudio foda. Provavelmente farei isso.

Mas qualquer um que apareça fazendo tudo pelo avesso vai automaticamente ter o meu respeito.


Como é a recepção do "Faça Você Mesmo"


No meu ver, o Brasil ainda se prende a esquemas de produção cultural e comercialização mais tradicionais, mesmo em meios mais UNDERGROUNDs. De maneira geral, me parece que as pessoas ainda NECESSITAM de um selo, da aprovação de uma gravadora ou editora para validar algo. Já fui muito ativo em cenas underground outras, como de musica pop (por quase 2 anos, fui produtor e agente do cantor pop piracicabano Kyle Vince), e me parece que invés de abraçar o underground como proposta e identidade, muitos artistas encaram como um "mal necessário" que deve ser superado para se atingir o maintream. E nada de errado em pensar assim, todo mundo tem contas pra pagar, e cada um sabe onde o sapato aperta. Mas isso acaba enfraquecendo o faça você mesmo underground, infelizmente.

Nesse aspecto, me parece - e essa é só a minha percepção - que ainda estamos um passo atrás do tipo de receptividade que acontece lá fora.

E logicamente não falo apenas de Horror Punk, mas do mercado musical e cultural em geral.

Não descarto a possibilidade de que a pouca receptividade aqui das minhas produções se devam a baixa qualidade delas. É totalmente possível, e o "Faça Você Mesmo" não deve ser desculpa para diminuir a qualidade da cena.

Mas um exemplo que embasa minha visão:

Divulguei a arte da capa que fiz 100% recentemente em alguns grupos e comunidades lá fora, e rendeu muitos bons comentários, dicas, e até debates sobre tecnicas de criação. 

Aqui, mesmo divulgando em mais lugares (quase o dobro de lugares) a recepção foi extremamente fria, pra dizer o mínimo!kkkkkkkkkk:

Deixo aqui a arte pra cada um chegue as próprias conclusões:



domingo, 2 de maio de 2021

Opinião Horror Punk: Cantar em Inglês...banda nacional...e aí?

 Mesmo morando em uma Comunidade rural, aos 14 anos de idade consegui me tornar fluente em inglês, de forma auto-didata.

Com certeza o fato de ser autista com vários hiperfocos teve muito a ver com isso. Ser autista traz um monte de complicações, mas também alguns benefícios.

Aos 16 anos eu me tornei o único professor de Inglês da cidade em que morava, e desde então esse idioma tem sido responsável, direta ou indiretamente, por 90% de tudo que conquistei na vida.

Pode parecer que essa introdução auto indulgente não tem nada a ver com o tema do post, mas a minha opinião só vai ficar clara tendo isso em mente.

Antes de postar esse texto eu ouvi a opinião de alguns amigos e  amigas do mundo do rock ( valeu demais, João, Rafael, Thaita e Mendes!).

Vejo algumas pessoas fazerem essa separação entre "bandas que cantam em inglês" e " bandas que cantam em Português", e conheço SIM um número razoável de pessoas que não consideram as bandas que não cantam em português como parte da cena.

Se você não conhece, parabéns, só não venha cagar regra nisso, OK? Falar que "eu não conheço a cena"é de uma pretensão gigante. A cena é ampla e tem MUITA coisa rolando por aí que não está no filtro mesmo de quem está nela desde o começo.

Uma vez que minha banda tem 5 discos e 1 EP cantados em Inglês, e agora vai lançar um disco todo em português, eu meio que transito nos 2 mundos.

Esse artigo não é para quem, assim como eu, acha que fazer essa dívisão não faz sentido. Eu acho que música é mùsica, que vivemos conectados num mundo  com fronteiras líquidas (um abraço, Baumann), e que, inspirado pela reflexão "Palido Ponto Azul" do Carl Sagan, eu não vou diminuir ainda mais o tamanho do meu mundo.

Esse texto é para refletir sobre 2 argumentos que surgiram nas conversas que tive com a galera citada acima.

Inclusive eles leram isso antes de postar.

1° Argumento:

"Cantar em Português faz as pessoas entenderem mais a mensagem" - um argumento válido


Como professor de inglês por mais de 20 anos, posso afirmar sem qualquer medo de erro que apenas uma pequena parcela da população domina o idioma no nível da fluência.

Durante muito tempo escolas de inglês converteram a lingua em um diferencial voltado as classes abastadas, ao mesmo tempo em que o ensino público sucateava o idioma. Eu já dei aula de inglês no ensino público e também em escolas como Wizard, Yazig, People e CNA, ambos os modelos são extremamente problemáticos.

Dessa forma, cantar em português realmente torna a mensagem mais abrangente.

2° Argumento:

"Cantar em Português tem a ver com nossa Identidade" - Um argumento zoadíssimo


Esse argumento é problemático em vários niveis diferentes. Vou comentar apenas alguns poucos.

Português é nossa identidade?

Vamos considerar que sim. E estender isso ao rock e o Horror Punk.

O rock, o punk, são estilos que surgiram FORA do Brasil.

Se é pra se manter fiel a esse conceito de "identidade", então que se busque também generos nacionais.

Um "Horror -Maracatú", um "Horror-Catira", um "Horror-Modão" faria muito mais jus a esse argumento de "identidade".

Eu, particularmente, tenho achado mais fácil cantar em português, do ponto de vista fonético. Eu acho o português uma língua mais bem construida do que o Inglês.

E quando o assunto é Horror punk, eu realmente gosto mais daquelas bandas que cantam em português.

Só acho que quando se apela para o argumento da "identidade", tocando um gênero musical que surgiu milhares de kilometros longe, em outro país, é um argumento muito fraco.

E outro ponto: Que identidade?

Porque o INGLÊS faz tanto parte da minha identidade quanto o português. E isso não faz de mim menos brasileiro. A maioria das escolas particulares prezam que os professores falem inglês o maximo possível, e nesses 20 anos de docência a quantidade de tempo que eu passei falando inglês foi enorme.

Também acho que muitas vezes usar o termo "identidade" enquanto brasileiro acaba caindo em um nacionalismo que principalmente hoje em dia me irrita profundamente. O que tem de imbecil saindo nas ruas com camiseta da seleção em defesa da nossa "identidade nacional" não está escrito.

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