Eu sou muito adepto da postura "Faça Você Mesmo", que o punk popularizou (embora ao longo da história muita gente ja estivesse praticando isso, de Leonardo da Vinci ao blues aos caras que inventaram a guitarra elétrica).
Não apenas na mùsica, onde gravei de forma 200% artesanal 5 discos e 1 EP usando um celular, mas também em outras áreas eu procuro levar o "Faça Você Mesmo" em tudo.
Também atuo como escritor e já publiquei algumas coisas por meio de editoras, de uma maneira mais formal. Eis aqui alguns dos meus trabalhos publicados nesse modelo mais "comum". Sou um dos autores de cada uma dessas coletâneas :
Mas fato é que nunca gostei muito desse esquema de precisar da aprovação de alguém para que eu possa mostrar meu trabalho.
Ou pior: depender da aprovação de alguém para produzir.
Por isso, montei minha própria editora independente, a TLHP GAMES, onde eu literalmente confecciono o Livro todo, do texto à diagramação, da arte à divulgação. Eis aqui alguns trabalhos que ja publiquei de forma Independente:
O "Faça Você Mesmo" diz que você não deve ficar esperando as condições ideias caírem do céu; jamais. Dentro dessa filosofia, temos 2 caminhos possíveis: correr atrás para que as condições ideiais (ou algo próximo disso) sejam alcançadas, ou então que se faça o pretendido com aquilo que temos em mãos AGORA.
As duas posturas são excelentes e válidas. Mas o segundo caminho mora no meu coração.
Mas...as vezes me parece que as demandas e exigências do mercado atual, em tudo, tem mudado o "Do it Yourself".
Será que o "Faça Você Mesmo" não é mais como era antigamente?
A minha Visão
Eu acho que o mercado tem se esforçado muito para conter e até mesmo barrar o "Faça Você Mesmo". Quanto mais gente embarcar nessa de verdade, menos os artistas dependerão de terceiros.
Sites como CATARSE, KICKANTE, APOIA-SE, KICKSTARTER, com a ideia de Financiamento Coletivo tem trabalho fortemente com a intenção de diminuir a distância entre a ideia e o final. De dar ferramentas para que projetos independentes possam cada vez mais se concretizar de forma independente mesmo.
Por exemplo, o livro acima "Cybercidades e SYnthwave" foi lançado dessa forma, através de FCs. Eu vendi o livro antes sequer dele ter sido escrito. Você apresenta a ideia, e quem "comprar" essa ideia, apoia.
Ao mesmo tempo, e falando agora especificamente de mùsica, as tecnologias de gravação e as formas de promoção evoluíram tanto que a maioria esmagadora dos artistas também tem altos parâmetros de todos os elementos que eles querem para seus trabalhos. Isso é muito bom, mas já vi mais de um projeto ir pra gaveta da eternidade pelo fato da banda não ter como atingir esses parâmetros, e preferir NÃO lançar algo do que lançar com "adaptações".
Algumas gravações que nos anos 70, 80 seriam consideradas "ok" muito provavelmente hoje em dia seriam motivo de chacota.
Os meus discos são diariamente criticados e desprezados por conta da qualidade de gravação. Porque eu literalmente gravo tudo no celular. Se eu continuo compondo e gravando assim, é devido a um gosto imenso por esse "Faça Você Mesmo" mais visceral, mais lo-fi.
E também por estar cagando para críticas e opinião alheia, confesso. Eu não dou a mínima.
Nunca entenderei quem precisa de likes constantes e elogios pra continuar produzindo. Elogios são legais, mas depender deles é um inferno eterno. Meu projeto musical surgiu como uma brincadeira pedagógica e acabou dando mais frutos que o esperado, como participação em uma coletânea norte americana (com a música "The Root from All Evil") e ter musica transformada em tema oficial da Editora 101 GAMES (com a música "Vampires are Awake). Dentro do que eu poderia esperar dessa tosqueira, já foi infinitamente além.
Mas voltando ao "Faça Você Mesmo"...
A inserção em qualquer tipo de mercado tem exigido cada vez mais "profissionalização". Não estou dizendo que isso é ruim. Isso tende a manter a qualidade do que a cena apresenta alta.
Mas TEM QUE EXISTIR o lado tosco da coisa. Tem que existir pessoas fazendo coisas de uma forma que qualquer pessoa veja e pense: "eu também posso fazer isso!". Muita gente vai entrar para cena por isso.
E é o Faça Você Mesmo que geralmente acrescenta esse aspecto a qualquer cena ou mercado.
A profissionalização é logicamente um caminho sem volta, e traz muita coisa boa. Mas na minha opinião traz como consequência negativa um certo engessamento da espontaneidade. Tem que ter a galera gravando em uma mesa de 32 canais. É importante que tenha. Mas tem que ter também a galera gravando o ensaio na garagem e lançando isso na cara e na coragem.
É uma visão ingênua, infantil, de um mundo que não existe mais?
Pode até ser. Provavelmente é tudo isso mesmo.
Mas é uma visão que sempre defenderei.
Não digo que nunca sairei dela; quero sim um dia pegar umas 6 ou 7 musicas do meu projeto e gravar num estudio foda. Provavelmente farei isso.
Mas qualquer um que apareça fazendo tudo pelo avesso vai automaticamente ter o meu respeito.
Como é a recepção do "Faça Você Mesmo"
No meu ver, o Brasil ainda se prende a esquemas de produção cultural e comercialização mais tradicionais, mesmo em meios mais UNDERGROUNDs. De maneira geral, me parece que as pessoas ainda NECESSITAM de um selo, da aprovação de uma gravadora ou editora para validar algo. Já fui muito ativo em cenas underground outras, como de musica pop (por quase 2 anos, fui produtor e agente do cantor pop piracicabano Kyle Vince), e me parece que invés de abraçar o underground como proposta e identidade, muitos artistas encaram como um "mal necessário" que deve ser superado para se atingir o maintream. E nada de errado em pensar assim, todo mundo tem contas pra pagar, e cada um sabe onde o sapato aperta. Mas isso acaba enfraquecendo o faça você mesmo underground, infelizmente.
Nesse aspecto, me parece - e essa é só a minha percepção - que ainda estamos um passo atrás do tipo de receptividade que acontece lá fora.
E logicamente não falo apenas de Horror Punk, mas do mercado musical e cultural em geral.
Não descarto a possibilidade de que a pouca receptividade aqui das minhas produções se devam a baixa qualidade delas. É totalmente possível, e o "Faça Você Mesmo" não deve ser desculpa para diminuir a qualidade da cena.
Mas um exemplo que embasa minha visão:
Divulguei a arte da capa que fiz 100% recentemente em alguns grupos e comunidades lá fora, e rendeu muitos bons comentários, dicas, e até debates sobre tecnicas de criação.
Aqui, mesmo divulgando em mais lugares (quase o dobro de lugares) a recepção foi extremamente fria, pra dizer o mínimo!kkkkkkkkkk:
Deixo aqui a arte pra cada um chegue as próprias conclusões: